O Imperador Qin Shi Huang
iniciou a edificação de um notável monumento e simultaneamente um dos mais
impressionantes marcos de medo na história de homem – a muralha da China.
Trata-se de uma obra iniciada no século 3 A.C. e que
foi reformulada e expandida de forma significativa no século 15 D.C..
Presentemente, tem cerca de 6.400 quilómetros, mas acredita-se que a sua
dimensão tenha tido maiores proporções (existe mesmo quem sustente que possa
ter chegado aos 50.000 quilómetros).
O seu objectivo, tal como mais tarde se reeditaria,
de forma mediática, no tristemente famoso muro de Berlim e, aparentemente na
actualidade, no âmbito do conflito israelo-palestiniano, visava delimitar
território, obstando à livre circulação de pessoas, bens, capitais, etc.
Ao viajar pelo nosso Portugal, quer seja entre as
zonas de moradias das nossas cidades, quer seja no interior do País, para além
de entristecer o caos urbanístico, impressiona como delimitamos as nossas
pequenas propriedades com tantos muros e vedações.
E observando-os, atentamente, ficam algumas interrogações:
Não teremos já erigido muros, paredes ou vedações,
delimitando propriedades, num país tão pequeno, em extensão maior que a própria
muralha da China?
Quanto mais nos iremos murar? Porquanto tempo mais
iremos dirigir recursos e esforços para dividir, delimitar, demarcar?
O que será mais perigoso, tendo presente o
desenvolvimento sócio-económico de um país, o murar das suas fronteiras físicas
ou o murar dos seus cidadãos ou famílias?
De que forma tão profunda está enraizada esta realidade
na nossa sociedade?
Qual a altura dos muros que delimitam as quintas departamentais existentes no interior da sua organização?
Qual a altura dos muros que delimitam as quintas departamentais existentes no interior da sua organização?
Não estaremos, permanentemente, a tropeçar com as consequências desta realidade ao nível do desenvolvimento sócio-económico do país, com reflexos
particularmente visíveis no associativismo, no comportamento cívico, no
ambiente e segurança ou na sinistralidade das estradas portuguesas?
Neste contexto, ouvimos os nossos políticos, com particular
destaque para o nosso Presidente da República, pregar a inovação, associando-a
com a investigação científica e promovendo a proximidade entre Empresas e
Universidades e Centros de Investigação.
Escutamos o Presidente da República e
observamos.
E, no acto de observar a realidade que nos rodeia, vemos a nossa grande muralha.
Este facto permitir-nos-ia discorrer longamente sobre a
problemática da inovação (e sobre a actividade empresarial) em Portugal, mas
por limitação de espaço, e paciência do caro leitor, iremos centrar-nos sobre um
pequeno facto: o carácter colaborativo da inovação.
Numa comunidade empresarial crescentemente em rede,
inovar exige colaboração: em primeiríssimo lugar dos próprios colaboradores,
dos fornecedores, dos accionistas, dos diversos agentes do mercado e, muito
importante, dos próprios clientes/utilizadores.
E aqui, Sr. Presidente da República, esta nossa “muralha” constitui, no nosso ponto de vista, um enorme obstáculo.
Convém recordar que Sillicon Valley emerge num país onde, em grande parte das cidades, os bairros residenciais não têm muros a delimitar as propriedades.
Convém recordar que Sillicon Valley emerge num país onde, em grande parte das cidades, os bairros residenciais não têm muros a delimitar as propriedades.
Como se poderá inovar num pais que se mura tanto?
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